terça-feira, 19 de abril de 2011

Sei lá... As vezes vem uma vontade tão incontrolável de viver. Uma vontade de largar tudo e sair me aventurando por aí. Mas vem e logo tem que ser abafada, esquecida, deixada pra amanhã.
Mas o que fazer quando essa vontade incontrolável mora dentro de ti? Deixo-a abafada no meu interior? Mas acontece que sempre que faço-a adormecer, adormeço-me também. E não aguento. Não quero acordar na metade da vida e ver que passei todo o tempo adormecida, tentando abafar o meu grito por surpresas e novas sensações.
Não dá. A vontade tem pressa. Ela quer acordar hoje. Agora.

Laís - Por Guilherme Martins

 Aquela personagem, quase que saída de um livro, não intrigava a absolutamente ninguém – exceto alguns poucos conhecidos. Quem a olhasse, prejulgá-la-ia como apenas mais uma adolescente patricinha-esforçada que talvez estude para o vestibular e tenha sonhos utópicos – justamente como deve ser. E provavelmente estão certos. Porém, como todo humano, facilmente entendível e muito mais complexo por si só, sua personalidade e anseios vão muito além.
 Laís Stefâni, se prende muito mais ao seu mundo interno que ao externo. Tem sérios problemas com esteiras elétricas, sol e pessoas. Nos olhos, esconde o sonho de conhecer o mundo inteiro, cada lugar, respirando cada ar diferente. Talvez assim conheça o próprio mundo, aquele de que ela tanto escreve e que, por mais explorado que esteja, nunca lhe foi totalmente compreensível. “É necessário ter seu próprio mundo”, afirma Laís, “Cada um deveria formar seu mundo interior, de forma que os acontecimentos externos despertem uma interpretação própria vinda do seu mundo. As pessoas estão se apossando de outros mundos para torná-los seus”.
Sentada com as pernas em borboleta, com uma blusa e colete pretos, cabelo em vários tons de castanho, jeans escuro, sapatilha e batom vermelho, Laís escrevia. Um anel de prata com bordas douradas figurava em seu polegar direito. Às vezes, seu cabelo lhe pregava peças e balançava em uma dança com o vento, bem diante dos seus olhos. Ela, porém, escrevendo com sua caneta azul em um papel arrancado de um bloco qualquer, ignorava o cabelo que limitava sua visão. Mais raramente, de forma delicada pousava parte da franja atrás da orelha esquerda. Parecia tão confortável naquele banquinho circular de cimento que era como se fosse uma extensão dele. Uma formiga caminhava pelos seus pés sem que a incomodasse, ou sequer percebesse, até minutos depois em que a formiga a surpreende. “Ah, uma formiga!”, exclama com a maior naturalidade e calma do mundo. A formiga lhe traz lembranças de uma infância não muito distante, de quando ela brincava com insetos e animais. Por vezes, machucava um deles só para poder cuidar depois e libertá-lo para o mundo.
Laís sente a fúria desse planeta, bem como suas alegrias e amores. Pensando na primeira, ela quase se indigna. Uma fina linha de expressão em sua testa a faz pensar por um momento em como expor o que sentia, inutilmente. Seu maior sonho é saber expressar suas ideias, tal qual como pensa. Essa indignação se reflete na sua vida, nos seus pensamentos, nos seus atos. Cada manifestação de que participou era uma forma de descarregar sua raiva, acreditando que está participando de algo. A forma mais corriqueira de descarregar todo tipo de sentimento é através do blog que mantém desde agosto de 2009. “Desde que eu era muito pequena escrevia”, comenta, “sempre em ca-dernos, e não era sobre o doce que eu queria. Era sobre as coisas do mundo. Sobre os problemas, as tristezas, gente morrendo. Eu devia ter uns nove anos, não lembro bem. Mesmo meu gosto pela leitura foi muito natural, já era uma parte de mim”.

Até hoje, Laís lembra de um livro que a marcou: “Depois daquela viagem”, de Valéria Polizzi. O livro conta a história de uma menina que descobre ser portadora do vírus HIV. É um relato autobiográfico. Junto com a menina, Laís também descobria algo: o poder da palavra. “Esse foi um dos momentos que peguei mais ainda o gosto pela leitura”, conta.
Desde quando consegue se lembrar, Laís é apaixonada pelas palavras – tanto no papel de escritora como no de leitora. “Prefiro escrever do que ler. Na verdade, não é que eu prefira: é que o que descarrega o que eu sinto é a escrita”. Nesses quase dois anos que possui o blog, a escritora já postou mais de cem de seus textos. “Mesmo que ninguém leia, é uma forma de desabafar comigo mesma”, explica, “Eu escrevo sobre o mundo. Não o mundo de fora, o mundo de dentro. O meu mundo. Por isso os meus textos têm uma visão muito minha. As pessoas às vezes perguntam o que eu queria dizer, porque não entenderam muito bem, mas para mim tudo que escrevi é muito claro”.
Nessa busca do próprio ser, Laís percebe cada palavra que os outros pronunciam. Presta atenção em cada pronunciamento, como uma aluna aplicada, como que tentando achar naquelas palavras uma parte dela própria. A conversa flui porque a pessoa sente que ela sente o significado das coisas. E, como uma metamorfose ambulante, ela se adapta ao outro mundo roubando um pedacinho daquele para o seu próprio, em uma interpretação também própria. Os seus furtos nos outros mundos, o seu metamorfosear constante, faz com que ela tenha um mundo interno muito maior que qualquer externo possa ser, porque no final o seu será para sempre infinito e ininteligível, exceto para ela mesma. Ainda assim, teimando com seu interior, ela tenta dar um pouco daquele vasto mundo dela para todos, com textos que para ela são desabafos e para outros são revelações.

Na interpretação de cada um, Laís foge do próprio mundo sem deixar-se perceber. Doa um pedaço dobrado de mundo a cada um que um dia furtara, agregando muito mais do que a pessoa possa querer. Em cada um de seus textos, produz dezenas de sentimentos diferentes em cada um dos leitores.

Ela sabe o que quer, mas nem sempre sabe quem é. “Não me considero uma mulher, nem uma menina. É clichê eu falar isso, mas eu me considero um pouco de cada. Tenho uma parte menina, uma parte mulher, uma parte adolescente. É como se tivesse várias flores dentro de mim. Uma rosa, uma margarida, uma hortênsia. E não sou eu quem escolhe qual vai florescer. Em cada situação, uma floresce. Talvez eu seja uma flor exótica”.

CITAÇÕES

Futuro


“Tenho medo do futuro , medo de tudo aquilo que me é desconhecido e traz incertezas. Mas tenho medo e passou. Quando você tem medo simplesmente desiste?”

Cotidiano

“Eu sou uma pessoa que tem que ser reconquistada todos os dias. É como se a cada 24 horas zerasse a afinidade por uma pessoa. Não sei, é estranho.”

Mudar o próprio mundo

“Se eu visse algum motivo, eu mudaria. Mas se eu percebesse isso, visse algum sentido. Não por causa de outras pessoas”.


por Guilherme Martins

domingo, 3 de abril de 2011

Sobre o amor/3

"- Não dá, a gente não vai dar certo. A gente não concorda em nada. Somos opostos em tudo. Vamos ver, qual é a sua cor preferida?
- Branco.
- Olha aí! A minha é vermelho, o oposto da sua!
- Ah, tá! Rsrs. E é sobre esse tipo de diferença que você diz? Agora as cores que decidem o nosso futuro?"
  
Mas nós demoramos a perceber, que quando amamos alguém, passamos a ter mais de uma cor preferida; Passamos a ter mais de um sonho; Passamos a nos preocupar com mais um coração; Passamos a ser tolereantes não só com os nossos defeitos; Passamos a pensar não só na nossa própria felicidade, mas na felicidade de outro alguém.
Demoramos a perceber que amor é exatamente estar disposto a responder: A minha cor preferida é branco e vermelho. Mesmo que uma delas seja preferida pelo simples fato de ser a preferida do seu alguém.