Eu esqueço o ponteiro das horas.
Eu esqueço a linha dos dias.
Eu esqueço as placas de distância.
Eu esqueço os indicadores de impossibilidades.
Eu esqueço as lágrimas escorridas.
Eu esqueço as falhas apodrecidas.
Eu esqueço os cortes e as mortes sem sentido.
Eu esqueço o que nunca quis lembrar.
Eu esqueço o frio que fez quando eu nem sabia como esquentar.
Eu esqueço o vázio cheio de medo e feridas amargas.
Eu esqueço o mesmo caminho percorrido, que ninguém me deixa abandonar.
Eu esqueço a vontade de estar sempre só, comigo mesma.
Eu esqueço que existe um mundo traiçoeiro.
Eu esqueço que tantas vezes ele nem é justo.
Eu esqueço o quanto esse mundo pode ser cruel, se quizer.
Quando me esqueço, é quando entro em outro.
É quando me sinto tão bem abraçada e acolhida, por um mundo que nem tem isso como obrigação.
E confesso: é um mundo de paz, de flores e nuvens branquinhas.
É um mundo doce e puro. Que carrega a verdade na palma das mãos.
É um mundo que me faz esquecer tudo.
É um mundo que me faz descobrir, que ainda existem coisas sinceras em que posso acreditar.
Eu não esqueço a saudade de agora.
E nem a alma sorridente que me fez carregar.