domingo, 22 de dezembro de 2013

Despedaçada

"Caiu e despedaçou-se. Ou melhor, derrubaram a moça e ela ficou só os caquinhos. Alguns foram arremessados lá longe, outros, um pouco mais perto. Mas até os que estavam perto, pareciam estar há quilômetros de distância e se fosse medido em tempo, há anos e anos de distância.
Alguns passavam, viam a moça no chão e riam, mesmo que sem mostrar os sorrisos. Outros lamentavam, mesmo que não fizessem nada para ajudá-la. Outros tentavam oferecer a mão para que ela levantasse, mas a moça, no fundo, parecia querer continuar ali, aos pedaços.
Ninguém parecia entender. Como uma moça pode ser tão boba? Não lhe deram esperteza em algum momento da vida? Não ter vontade de levantar-se e de tornar-se novamente inteira parecia insano a alguns olhos.
Pobres! A moça se via ali, não caída, mas deitada, descansando da queda. Estudando minuciosamente o encaixe de cada caquinho.
Colou os cacos, se fez inteira e em sua segunda queda foi ao chão, mas logo se levantou e pensou: Ufa, dessa vez continuei inteira! Quebrar-se é necessário, mesmo que doa. Mesmo que recompor-se exija força de vontade. Só assim a moça se fez forte, só assim a moça, na segunda queda, aprendeu a cair sem quebrar-se." (Laís S. M)