segunda-feira, 21 de março de 2011

Sobre o amor/2

"Quer dizer que você não queria estar aqui, porque queria estar com o seu amor? - disse o moço, em um tom de espertalhão.
A risada meio escondida e envergonhada, lá no fundo demonstrou que sim. Que ela realmente largaria todos os lugares e todos os planos pelo amor. Subiria em árvores; aprenderia a voar; deixaria por um ou mil dias aquilo que lhe fosse mais importante; não inventaria desculpas e justificativas quando o amor estivesse triste e precisando de ajuda; fugiria pro lugar mais alto e distante sem se importar com o resto; agiria mais do que fala; pescaria sorrisos; buscaria a estrela mais bonita e brilhante e faria de tudo para tê-lo sempre perto.
Ela, piscando levemente os olhos e colocando o cabelo suavemente por cima dos ombros, disse: ''Queria. É o único dia que tenho para vê-lo. Mas não posso. Tenho que estar aqui.''
Mas ele, com um jeito que levava a razão dentro dos olhos, disse: "Se o seu amor fosse realmente amor, ele estaria aqui com você, no lugar onde você tem que estar''.

sábado, 12 de março de 2011

O tempo

Dizem por aí, que ele é um jovem senhor, fugaz e imprevisível. Dizem que ele, quase invisível, passa tão depressa que ninguém jamais conseguiu vê-lo. Dizem que ele é mau e também dizem que é bom. Uns querem que ele passe depressa. Outros querem que ele demore tanto a passar, que tudo acaba demorando, menos ele. Dizem que ele tortura. Dizem que ele voa quando precisamos que ele ande como um velhinho, sem tanta pressa para chegar. E dizem que ele quase não anda, quando mais esperamos os seus passos corridos.
Temos que ser astutos também. Temos que aprender a não nos preocuparmos com esse jovem senhor. Temos que aprender a driblar e controlar a nossa vontade de acelerar ou pausar os momentos, os acontecimentos, as histórias, os beijos, os abraços, as gargalhadas e a vida. 
A gente pode viver uma coisa de cada vez. Podemos saborear a vida, sem precisar perder o sabor de nada pelos caminhos. Mas se a gente quer acelerar demais, a gente começa a apenas engolir, sem sentir o gosto daquilo que comemos. E se pausamos demais, a gente para de descobrir a vida e isso é o fim. A gente passa a viver uma só coisa e não descobrimos nunca qual será a ultima cena.
Mas como sempre, eis aqui uma contraditória. Eis aqui, alguém que odeia teorias. Nada pessoal. É apenas alguém que nunca consegue ver a mesma facilidade das teorias, nas práticas. Portanto, peço eu, ao jovem senhor chamado tempo, que pegue mais leve comigo. Me dê o comando do jogo. Ou pelo menos, que me faça esquecer de sua existência.
Tempo, tempo. Vamos conversar ali fora? A gente pode tomar uma xícara de chá de calma pra ver se o tempo passa.

sábado, 5 de março de 2011

A Laís

"Mas você me lembra um gatinho, bem novo ainda.
Gosta de brincar, correr atrás de fios e linhas misteriosas.
Mas quando não quer mais, podem ter bilhões de fios que você não corre atrás.
Minha mãe costuma chamá-los de ariscos...
Já eu, só acho que eles conseguem respeitar suas vontades.
Assim como você!" - Henrique Leto

quarta-feira, 2 de março de 2011

Ela

Ela acorda com todas as forças se despertando dentro dela. Todas como se fossem bombas prontas para explodirem, levando-a até o ponto mais alto e tranquilo que ela avistar. E todo aquele clima onírico parecia tão desafiador, que as forças se multiplicavam mais e mais. Como se começasse a fazer reservas de forças para viver os sonhos e não falhar na metade deles. Pra ser direta, ela já havia testemunhado muitos casos de sonhos "quase vivídos" e a última coisa que queria, era ser uma dessas testemunhas. Sempre foi de fazer planos e mais planos, criar expectativas e entrar nos sonhos por completo, mesmo acordada.
Mas acontece que ela precisa aprender a viver o hoje. Precisa aprender a digerir os sonhos com mais sensatez. Se o problema geral do mundo é não sonhar e achar os sonhos grandes demais pra ele, o dela é sonhar demais, se achar tão grande quanto os sonhos e querer abocanhá-los de uma só vez, sem dar tempo algum para o sonho se preparar para ser vivído e nunca mais ter sido apenas um sonho.
Ela descobriu a má relação que tem com o tempo. Descobriu a má relação que tem com essas regras de pode e não pode. Descobriu a má relação que tem com o que não é preenchido com uma gama de sentimentos e sensações. Descobriu a má relação que tem com as coisas que realmente não lhe agradam. Descobriu a má relação que tem com a frase: Você ainda não pode ser assim. Porque ela simplesmente pode.
Mas ela se vê, dentro de si, buscando controlar os próprios espinhos e pétalas. Tentando não misturar os próprios perfumes. Tentando viver um sonho de cada vez. Buscando o descobrimento de tudo aquilo que ela pensa conhecer.