sábado, 18 de dezembro de 2010

Chora, menina!

Chora com força, menina! Vê se chora logo essa solidão tão cruel que tem te enoitecido. Chora logo este silêncio mal feito, que ainda deixa passar o som dos teus soluços. Chora logo, menina! Abra as portas e as janelas. Deixe a claridade entrar aí e vá ser feliz. Pare de olhar o vento balançando as folhas pela janela e vá senti-lo também. Pare de se ver tão pequena. Pare de deixar que um mundo louco te faça ser monótona junto com ele. E se tens vontade de mastigar um pouco de nuvem, permita-se entrar nos sonhos. Tem feito isso pouco. E isso tem te feito muito mal.
Mas agora você me olha. Me olha com uma cara de quem passou o dia todo dormindo e não conseguiu sonhar. Me olha com uma cara de quem vai ver a noite dormir e acordar, para ver se as estrelas lhe despertam um pouco de calma. Me olha com uma cara de quem precisa de um ombro para encostar de leve, mas só encontra uma cama e uns ursinhos doados que não conseguem passar as mãos de leve sobre os seus cabelos bagunçados.
Chora com força, menina! Mas chore baixo, para não acordar os passarinhos. E chore seco, para não inundar a cidade.